Informações sobre o novo coronavírus (COVID-19)
Informações sobre o novo coronavírus (COVID-19)
1Médico Radiologista do United Health Group Inc. (UHG), da Rede D’Or São Luiz e da Rede Casa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: cmaolima@gmail.com.
Coronavírus é um
vírus zoonótico, um RNA vírus da ordem Nidovirales, da família Coronaviridae(1). Esta é uma família de vírus que causam
infecções respiratórias, os quais foram isolados pela primeira vez em 1937 e
descritos como tal em 1965, em decorrência do seu perfil na microscopia
parecendo uma coroa(2). Os tipos de coronavírus conhecidos até
o momento são: alfa coronavírus HCoV-229E e alfa coronavírus HCoV-NL63, beta
coronavírus HCoV-OC43 e beta coronavírus HCoV-HKU1, SARS-CoV (causador da
síndrome respiratória aguda grave ou SARS), MERS-CoV (causador da síndrome
respiratória do Oriente Médio ou MERS) e SARS-CoV-2, um novo coronavírus
descrito no final de 2019 após casos registrados na China. Este provoca a
doença chamada de COVID-19(2).
O diagnóstico
definitivo do novo coronavírus é feito com a coleta de materiais respiratórios
(aspiração de vias aéreas ou indução de escarro). O diagnóstico laboratorial
para identificação do vírus é realizado por meio das técnicas de proteína C
reativa em tempo real e sequenciamento parcial ou total do genoma viral.
Orienta-se a coleta de aspirado de nasofaringe ou swabs combinado
(nasal/oral) ou também amostra de secreção respiratória inferior (escarro ou
lavado traqueal ou lavado broncoalveolar). Para confirmar a doença é necessário
realizar exames de biologia molecular que detecte o RNA viral. Os casos graves
devem ser encaminhados a um hospital de referência para isolamento e
tratamento. Os casos leves devem ser acompanhados pela atenção primária em
saúde e instituídas medidas de precaução domiciliar(1).
O espectro clínico da
infecção por coronavírus é muito amplo, podendo variar de um simples resfriado
até uma pneumonia grave. O quadro clínico inicial da doença é caracterizado
como uma síndrome gripal. As pessoas com COVID-19 geralmente desenvolvem sinais
e sintomas, incluindo problemas respiratórios leves e febre persistente, em
média de 5 a 6 dias após a infecção (período médio de incubação de 5 a 6 dias,
intervalo de 1 a 14 dias). A febre é persistente, ao contrário do descenso
observado nos casos de influenza(1,3). A febre pode não estar presente em
alguns casos, como, por exemplo, em pacientes jovens, idosos, imunossuprimidos
ou em algumas situações que possam ter utilizado medicamento antitérmico(1). A doença em crianças parece ser
relativamente rara e leve, com aproximadamente 2,4% do total de casos
notificados entre indivíduos com menos de 19 anos. Uma proporção muito pequena
de menores de 19 anos desenvolveu doença grave (2,5%) ou crítica (0,2%)(1,3).
De acordo com o
Protocolo de Manejo Clínico para o Novo Coronavírus, publicado pelo Ministério
da Saúde(1) em fevereiro deste ano, na
avaliação dos primeiros 99 pacientes internados com pneumonia e diagnóstico
laboratorial de COVID-19 no hospital de Wuhan observou-se uma maior taxa de
hospitalização em maiores de 50 anos e do sexo masculino. Os principais
sintomas foram febre (83%), tosse (82%), dispneia (31%), mialgia (11%),
confusão mental (9%), cefaleia (8%), dor de garganta (5%), rinorreia (4%), dor
torácica (2%), diarreia (2%) e náuseas e vômitos (1%). Também houve registros
de linfopenia em outro estudo realizado com 41 pacientes diagnosticados com
COVID-19.
Guan et al.(4), avaliando dados de 1099 pacientes
chineses com COVID-19 confirmado, observaram que a idade média dos pacientes
foi de 47 anos e que 41,9% dos pacientes eram do sexo feminino. O desfecho
composto primário, isto é, a admissão em unidade de terapia intensiva (UTI), o
uso de ventilação ou morte, ocorreu em 67 pacientes (6,1%), incluindo 5% que
foram admitidos na UTI, 2,3% submetidos a ventilação mecânica invasiva e 1,4%
que morreram. Os sintomas mais comuns foram febre (43,8% na admissão e 88,7%
durante a internação) e tosse (67,8%). Diarreia foi incomum (3,8%). Linfopenia
estava presente em 83,2% dos pacientes na admissão. O período médio de
incubação foi de 4 dias. Os pacientes frequentemente se apresentavam sem febre
e muitos tinham exames radiológicos normais.
Baseados no estudo de
55.924 casos confirmados, a WHO-China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019(3) relatou como sinais e sintomas mais
comuns: febre (87,9%), tosse seca (67,7%), fadiga (38,1%), produção de escarro
(33,4%), dispneia (18,6%), dor de garganta (13,9%), cefaleia (13,6%), mialgia
ou artralgia (14,8%), calafrios (11,4%), náuseas ou vômitos (5%), congestão
nasal (4,8%), diarreia (3,7%), hemoptise (0,9%) e congestão conjuntival (0,8%).
Na maioria dos casos, a doença foi leve e houve recuperação completa.
Aproximadamente 80% dos pacientes confirmados em laboratório tiveram doença
leve a moderada, que incluiu casos com e sem pneumonia, 13,8% apresentaram
doença grave (dispneia, frequência respiratória ≥ 30/min, saturação de O2 no
sangue ≤ 93%, relação PaO2/FiO2 < 300 e/ou pulmão
com infiltrado ocupando mais de 50% do parênquima pulmonar dentro de 24 a 48
horas), e 6,1% foram críticos, com falência respiratória, choque séptico e/ou
disfunção/falha de múltiplos órgãos. Infecção assintomática foi relatada, mas a
proporção de casos verdadeiramente assintomáticos não está bem definida.
Indivíduos com maior risco de doença grave e morte incluíram pessoas com mais
de 60 anos, especialmente os com condições subjacentes, como hipertensão,
diabetes, doenças cardiovasculares, doença respiratória crônica e câncer(1,3).
Em relação à TC, os
aspectos mais comuns relatados foram opacidades em vidro fosco e áreas de
consolidação, às vezes com morfologia arredondada e distribuição periférica.
Bernheim et al.(5) avaliaram anormalidades pulmonares
relacionadas ao tempo da doença e relataram que a TC do tórax mostrava a doença
mais extensa aproximadamente 10 dias após o início dos sintomas. O estudo
radiológico torácico é frequentemente essencial para a avaliação de pacientes
com suspeita de COVID-19. O reconhecimento imediato da doença é fundamental
para garantir o tratamento oportuno, e do ponto de vista da saúde pública, o
rápido isolamento do paciente é crucial para a contenção dessa doença transmissível.
Bernheim et al.(5) avaliaram os achados da TC de tórax
na COVID-19 e a relação com a duração da infecção. Foram caracterizados os
achados da TC de tórax de 121 pacientes infectados com COVID-19 na China em
relação ao tempo entre o início dos sintomas e a tomografia inicial. A hipótese
era de que certos achados da TC podem ser mais comuns, dependendo do tempo
decorrido da infecção. Apenas as TCs iniciais do tórax foram avaliadas. Dos 121
pacientes, 27 (22%) não apresentavam alteração tomográfica. Os 94 pacientes
restantes (78%) apresentavam opacidades em vidro fosco, consolidação ou ambos.
Setenta e três dos 121 pacientes (60%) apresentaram doença pulmonar bilateral.
Linfonodopatia torácica, escavação pulmonar e nódulos pulmonares estavam
ausentes em todos os 121 pacientes, e apenas 1 paciente (1%) apresentou derrame
pleural. O tempo entre o início dos sintomas e a TC subsequente foi
classificado como precoce (0 a 2 dias; 36 pacientes), intermediário (3 a 5
dias; 33 pacientes) ou tardio (6 a 12 dias; 25 pacientes). A frequência de
opacidades e consolidação de vidro fosco foi muito menor no grupo precoce, em
comparação com os grupos intermediário e tardio. Dezesseis dos 36 pacientes
precoces (44%) apresentaram opacidades pulmonares, em comparação com 30 dos 33
pacientes intermediários (91%) e 24 dos 25 (96%) pacientes tardios. O
envolvimento pulmonar bilateral foi observado em 10 dos 36 pacientes precoces
(28%), 25 dos 33 pacientes intermediários (76%) e 22 dos 25 pacientes tardios
(88%). Opacidades lineares, padrão de pavimentação em mosaico e sinal do halo
invertido estavam ausentes no grupo precoce, mas presentes no grupo tardio em 5
(20%), 5 (20%) e 1 (4%) casos, respectivamente. Em termos de distribuição da
doença no plano axial, observou-se distribuição periférica em 8 dos 36
pacientes precoces (22%), 21 dos 33 pacientes intermediários (64%) e 18 dos 25
pacientes tardios (72%).
O reconhecimento de
padrões de imagem com base no tempo de infecção é fundamental não apenas para
entender a fisiopatologia e a história natural da infecção, mas também para
ajudar na progressão preditiva do paciente e no potencial desenvolvimento de
complicações. Até o momento, os aspectos anatomopatológicos da doença não foram
descritos(6). Futuros estudos poderão avaliar os achados
de imagem em pacientes crônicos(5), além de reportar os aspectos
anatomopatológicos da infecção.
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